Nuno Roque, 45 anos, residente no Barreiro, técnico da Administração Tributária, fechou o ciclo na arbitragem em campo no último sábado, em Guimarães, no jogo Vitória SC-FC Porto, que contou para a derradeira jornada da Liga NOS 2017/18. Um desafio que provocou emoções fortes a um árbitro que começou a carreira “a tremer que nem varas verdes” num ‘pelado’ no Montijo.

 

afsetubal.fpf.pt - Como surge a arbitragem na sua vida?

Nuno Roque – Foi na sequência de um convite de um colega do meu pai que era árbitro. A esse incentivo, acabei por frequentar o curso, que conclui a 18 de novembro de 1989, ainda com 17 anos, o que não era nada comum, e fui ficando…

 

Lembra-se qual foi o seu primeiro jogo oficial?

Sim. Foi um Clube Desportivo do Montijo-Atlético Clube de Arrentela, a contar para o campeonato distrital da I divisão da AF Setúbal, em juniores, realizado em fevereiro de 1990.

 

Como correu?

Só fiz porcaria (risos). Tremia que nem varas verdes. Lembro-me que a primeira decisão errada que tomei foi a de assinalar um fora de jogo num lançamento lateral. Nesse jogo não fiz nada de jeito. Mas serviu-me de lição. Não desisti.

O segundo jogo já foi correu melhor e segui a evoluir ao longos dos anos…



Nuno Roque, ao centro, antes de um jogo realizado em 1994, 

no Campo do Pragal, em Almada



Nestes quase 30 anos de ligação à arbitragem, houve, certamente, episódios curiosos…

É verdade. Recordo-me de dois particularmente caricatos vividos há muitos anos.

Um primeiro ocorrido em Setúbal, no campo da Bela Vista, para o qual a nossa equipa de arbitragem havia sido nomeada para um jogo de juniores. Quando chegámos ao relvado, deparámo-nos com uma das balizas completamente ‘amassada’. Viemos a saber que foi o resultado de uma ‘aula de condução’ promovida pelo então guarda do campo, que andava a tirar a carta. O jogo acabou por ser adiado.

Noutra ocasião, foi em Santiago do Cacém. A nomeação indicou o campo n.º 2, mas quando chegámos ao local, não havia recinto desportivo, ao invés estavam a construir uma escola. Afinal, o jogo em causa havia sido marcado, à última da hora, para a localidade de Deixa-o-Resto, onde acabamos por chegar e realizar a partida.

 

… e outros momentos emocionalmente marcantes.

Com certeza. O último jogo, realizado este sábado, assume-se, provavelmente, como o mais marcante. Surpreenderam-me com a presença da minha família no relvado, antes do jogo, o que me deixou particularmente emocionado.

Recordo igualmente a minha nomeação para a final da Taça de Portugal na época passada. Tal como, a experiência de arbitrar no campeonato da Arábia Saudita e todos os ‘clássicos’ em que atuei.

Contudo, e no que respeita ao futebol da nossa região, guardo um dérbi histórico barreirense. No caso, um então Luso-Quimigal, da I distrital, disputado no Campo da Quinta Pequena, que apitei e que foi vivido com grande intensidade.

Mais recentemente, a minha colaboração na iniciativa da Taça Cidade do Barreiro. Um evento pelo qual tenho muito carinho e que desejo continue a ser realizado por muitos anos.

Mas, porque foi o último jogo e tive a presença da minha família, o encontro Guimarães-Porto é ponto alto de uma carreira.



Nuno Roque com o filho, nos instantes que antecederam 

o último jogo da carreira, no qual foi surpreendido

com particular e emotiva homenagem



Nuno Roque (na foto, à direita), aquando da apresentação

da edição 2018 da Taça Cidade do Barreiro



O que não conseguiu concretizar na arbitragem?

Creio que nenhum árbitro consegue atingir a perfeição. A minha carreira não foi de excelência, mas tenho muito orgulho em tudo o que fiz na arbitragem.

Nunca fiz drama do fato de não ser internacional, porque também não fiz desse estatuto um objetivo fundamental.

 

A arbitragem da AF Setúbal é referência. Todavia, e apesar dos esforços da Associação e dos núcleos, a pouca quantidade de novos árbitros formados tem sido uma realidade…  

É uma questão que não é fácil de ser resolvida, mas que carece de ser invertida. A captação e depois a forma de gerir as carreiras devem ser reforçadas. Precisamos de quantidade para gerar qualidade.

 

Um conselho para os árbitros que seguem a evoluir?

Que, acima de tudo, desfrutem de todos os momentos e que se foquem no essencial, que é trabalhar e evoluir. Que tenham orgulho na atividade, porque isto passa num ápice.

 

E para os mais jovens?

Que deem tempo à evolução e não desistam à primeira, nem à segunda. A dedicação à arbitragem é fundamental, cujo reconhecimento é bom e faz bem, além de que permite a construção de uma carreira. Contudo, requer muito trabalho.  

Para aqueles que já pensaram em entrar na arbitragem, sugiro que não hesitem em experimentar frequentar um curso. Os núcleos têm as portas abertas.

Eu não estou arrependido de ter andado por cá.

 

Com a bandeirola colocada na gaveta, o que se pode esperar do Nuno Roque, no âmbito da arbitragem?

Com certeza, vou continuar a assumir o mandato na presidência da Direção do Núcleo de Confraternização dos Árbitros de Futebol do Barreiro.

Entretanto, candidatei-me a frequentar o Seminário de Observadores da FPF e, se tiver aproveitamento, estarei apto a integrar o Quadro de Observadores. Vamos ver…



No núcleo do Barreiro Nuno Roque assume a presidência da Direção



Saudação da AF Setúbal a Nuno Roque      

 

“A AF Setúbal saúda e homenageia a relevante, meritória e dedicada carreira de Nuno Roque, pontuada ao longo dos quase trinta anos em que esteve nos campos de futebol em nome da arbitragem regional e nacional”.

 

“Ao Nuno Roque, árbitro que muito contribuiu para o reforçar do peso histórico que é reconhecido à arbitragem associativa e quem, com certeza, continuará a impulsionar o incremento da prestigiada atividade no âmbito local e regional, a AF Setúbal agradece, com particular reconhecimento, todo o seu trabalho e prestação desejando os melhores sucessos pessoais e profissionais”.

 

Mais de 1300 jogos     

 

Refira-se que Nuno Roque, que assinalou no passado dia 12 de maio, o final de uma carreira de 28 anos, na qualidade de árbitro assistente de primeira categoria, participou em mais de 1300 jogos oficiais, sendo cerca de 600 nas provas organizadas pela AF Setúbal, mais de 200 de âmbito federativo e acima de 400 nas competições de futebol profissional, dos quais 135 foram da Liga maior.