Natural de Cernache, Coimbra, Gonçalo Coelho, 32 anos, é árbitro desde 2013 e portador de deficiência auditiva desde tenra idade, uma limitação que não o impediu de alimentar a paixão pela modalidade de futsal e trilhar um caminho ligado à modalidade.

 

O exercício da arbitragem começou na região de Coimbra, mas a oportunidade de trabalhar em Lisboa trouxe-o, há quatro anos, para Sul e fixou-se no Seixal.

 

Gonçalo Coelho é profissional da área de eletricidade (praticante/montador de quadros elétricos), a AF Setúbal acolheu-o no seio da arbitragem e garantiu-lhe apoio para representar a nossa associação no prestigiado evento internacional, realizado entre 20 e 25 de fevereiro, no qual assumiu particular destaque ao fazer parte da equipa que arbitrou uma das finais da competição.

 

 

afsetubal.fpf.pt - Foi a primeira vez que esteve a arbitrar no DEAF DEAF European Champions League?

 

Gonçalo Coelho - Não. Esta foi a minha segunda participação no DEAF, depois de no ano passado, ter estado numa organização idêntica, na altura em Huelva, Espanha. 

 

Como surgiu o convite para arbitrar nesta prova?

Através de um colega árbitro da AF Leiria, também este Surdo, Pedro Costa, que já teve várias participações.

 

Foi o único português?

Não. Éramos dois árbitros portugueses, eu e o Pedro Costa.



Gonçalo Coelho (na foto, à esquerda) arbitrou, com o emblema da AF Setúbal, a final feminina da competição

 

Qual foi a sua participação direta nesta competição?

Arbitrei três jogos por dia, tanto para jogos do género masculino e feminino. Uma participação relevante na qual tive a oportunidade e a grande satisfação de ser nomeado para primeiro árbitro na final da competição feminina.

 

De que tipo de competição é que estamos a falar?

Posso dizer que, literalmente, é parecido à Liga dos Campeões, mas na vertente de atletas Surdos. Participaram 24 equipas masculinas e 16 no feminino, oriundas de vários países, nomeadamente: Espanha, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Polónia, Cazaquistão, Israel, Suécia e Suíça.

 

Como foi a experiência numa análise global?

Em geral, toda a organização e evento foram muito positivos. Foi uma experiência diferente, nomeadamente por ser composta por equipas de diferentes países, assim como a diversidade da língua estrangeira, ou seja, foi impressionante observar diferentes línguas gestuais de cada país. Houve respeito mútuo tanto da parte da organização, por elementos de cada equipa de futebol e pelos árbitros convidados.

Gostaria de repetir, porque foi uma experiência incrível e enriquecedora.



Gonçalo Coelho (na foto, à esquerda) com os demais árbitros do evento

 

Que importância atribuiu à sua presença, no que concerne à arbitragem, nomeadamente enquanto representante da AF Setúbal?

A AF Setúbal foi a primeira associação na qual obtive apoio e uma relação mais sólida até hoje. Assim sendo, durante o evento todo vesti os equipamentos com o emblema da AF Setúbal, mostrando orgulho sobre uma associação de futsal portuguesa apoiar um árbitro Surdo como eu. Demonstrei desse modo, que a AF Setúbal é uma associação de futsal portuguesa que reconhece que os eventos exteriores ao território português contam para o enriquecimento de um árbitro.

 

Uma mensagem a todos aqueles que têm a sua limitação e pensam que não podem ser ativos em determinadas áreas de intervenção, nomeadamente no âmbito do desporto e da arbitragem…

O futsal sempre foi a minha paixão desde pequeno. Não me senti uma pessoa Surda quando quis inscrever-me para a arbitragem. Queria ser igual a todos. Por isso, se me senti capaz de fazer o que mais queria, apesar da minha limitação auditiva, com certeza que todos os outros também conseguem ser capazes, seja em qualquer modalidade desportiva.

Para fazer desporto não há limitação. Basta querer.

 

J.G./afsetubal.fpf.pt